25 de jun. de 2011

"O tempo não para" - Lucinha Araujo

"O tempo não para"
Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, lança livro sobre o filho em Curitiba, participa de bate-papo com o público e autografa a obra



Uma obra com depoimentos de pessoas que cruzaram e deixaram impressões na vida do cantor Cazuza, tais como Ney Matogrosso, Sandra de Sá, Frejat, Ezequiel Neves, Nilo Romero, George Israel, o ex-namorado Serginho, entre outros. Assim é o livro “O Tempo Não Para – Viva Cazuza” (ed. Globo, 272 pág., R$ 39,90) que a mãe do cantor, Lucinha Araújo, publicou recentemente e lançou na capital paranaense.
O evento teve um bate-papo com o público, seguido de autógrafos, e aconteceu no dia 21 de junho, às 19h30, na Livrarias Curitiba Megastore do Shopping Palladium [av. Pres. Kennedy,4121,loja 2047, piso L2, Portão, tel. 41-3330-6749/41-3330-6749], com entrada franca.
Enredo O livro mostra como Lucinha Araújo tomou a frente da Sociedade Viva Cazuza - que dá suporte a crianças e adolescentes portadores do HIV - e qual era seu sentimento logo que a doença se tornou epidemia. “Eu me sentia como se estivesse participando de uma cruzada. Eram reuniões, manifestações na porta de hospitais públicos que recusavam pacientes HIV positivo, entrevistas, denúncias, passeatas exigindo verbas do governo...”.
Cazuza morreu em julho de 1990. Três meses depois, amigos montaram um tributo no Rio de Janeiro chamado Viva Cazuza – Faça Parte Desse Show, cuja renda seria doada ao Hospital Universitário Graffé e Guinle, referência em Aids naquela época.
Quando Lucinha foi entregar o cheque, percebeu que sua atuação contra a doença não havia se encerrado com a morte do filho; ela que queria apenas “lamber as feridas” depois de passar pelo ritual simbólico
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Recomeço
Lucinha diz que sempre quis ter muitos filhos e a convivência com as crianças da Sociedade Viva Cazuza trouxe-a de volta à vida, como se fosse um renascimento. “Pequenos, grandinhos, pretos, brancos, eram as minhas crianças! Piolho, sarnas, infecções, antirretrovirais, febre, dor de garganta, dor de ouvido. Achava que poderíamos superar tudo”. A casa chegou a ter 34 crianças, a maioria bebês, com um histórico bastante parecido – internações em hospitais públicos decorrentes de infecções provocadas pelo HIV.
Hoje, quando Lucinha olha para suas crianças que brincam, estudam e cantam, faz uma remissão ao seu próprio passado. Aparentemente absorto das conversas que o pai, João Araújo, tinha com os artistas que frequentavam sua casa, Cazuza rabiscava mapas de cidades fictícias enquanto Lucinha costurava, ouvia rádio e cantarolava. Ela acha que essas experiências impregnaram Cazuza de musicalidade. “Tentamos criar os nossos filhos baseados em nossas experiências, mas também nas que não tivemos. Se não pude vislumbrar na infância do meu filho quem ele seria, que árvores, flores, folhas ou frutos darão essas sementes que estamos cultivando?”, questiona sobre as crianças que acolhe.
São muitas as histórias que Lucinha conta em seu livro. Como a de Marcelo, a primeira criança a morrer na casa por ter contraído meningite criptocócica; a de Lucas, cuja mãe era interna do hospital Pinel e roubou o filho depois de ter pulado o muro da Sociedade Viva Cazuza; a de Newton, a criança número um da casa, com quem Lucinha confessa ter maior afinidade. “Costumo dizer que é porque ele foi o primeiro, mas não é só isso. O gostar não tem muita explicação”, diz ela.

Esperança
A chegada das drogas antirretrovirais deu mais qualidade – e quantidade – de vida aos doentes. Lucinha diz que se pergunta por que Cazuza “não pôde esperar”, já que ele se submeteu a diversos tratamentos médicos, incluindo o de Boston, na época considerado o mais eficaz de todos.
Faz essa pergunta também porque, quando vê suas crianças e seus adolescentes cheios de vida, imagina como seria o destino deles se não tivessem sido contaminados por suas mães. “No limite, chego a pensar que a Aids foi uma sorte na vida de alguns deles. Não fosse a doença, estariam numa situação pior, muito pior”, escreve. E completa: “Sempre dormimos com essa dúvida: se conseguimos fazer mais do que tirá-los de um risco iminente de vida e se conseguimos dar condições para que encaminhem suas vidas com os próprios pés, por eles mesmos.”
Outra dúvida que ronda Lucinha é quem – e como – seria Cazuza hoje. Talvez ácido e questionador como sempre foi, talvez melhor compositor. E ela assegura que o filho morreu em decorrência do prazer. Contudo, não está se referindo com isso ao modo como ele lidava com a sexualidade, porque “certamente ele fez sexo desprotegido”, mas à forma como gostava de conduzir sua vida. “Estou falando do desejo de viver intensamente, da lucidez de preferir viver dez anos a mil, a viver cem anos a dez. Ele era uma pessoa consciente e sabia que sua produção dependia dessa vivência”.
Lucinha diz que sentiu certo receio de dividir o livro com os amigos do filho, até porque “relações amorosas e de amizade são muito diferentes”, mas ela resolveu dar voz a alguns que têm do que recordar. Como Sandra de Sá, que chegou a admitir que “Cazuza não está morto, está vivo nessa instituição [a casa de apoio às crianças], é uma luz que ronda para mostrar o caminho”.
Além de Frejat, parceiro no Barão Vermelho, Ezequiel Neves – que segundo Lucinha foi o “instigador intelectual de Cazuza” – Nilo Romero e George Israel, há um depoimento de Serginho, única pessoa com quem Cazuza teve um relacionamento duradouro.
Na última vez que Serginho viu o namorado, já muito doente, ouviu a seguinte pergunta: “Vamos começar tudo outra vez?”. Serginho confessa que não sabia o que fazer e fugiu sem dizer sequer uma palavra. Mas, resume em uma frase o que teria dito: “O que aconteceu, valeu”.

Serviço
Lançamento do livro “O Tempo Não Para – Viva Cazuza”,bate-papo e sessão de autógrafos com Lucinha Araújo
21 de junho, às 19h30
Livrarias Curitiba Megastore do Shopping Palladium

Coquetel Habel França Gastronomia

Crédito das fotos
Divulgação e Mônica Rocha